discurso


 

Veneráveis Irmãos no Episcopado, dilectíssimos fiéis congregados nesta insigne Basílica Vaticana,

 

Neste dia santíssimo, em que a Igreja eleva com júbilo sua voz e seu coração na contemplação do augustíssimo Sacramento do Corpo e do Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo, somos convidados a penetrar com reverência e temor no mistério que transcende toda razão criada: o mistério do Deus eterno que Se faz alimento, do Verbo Encarnado que Se oculta sob os véus sacramentais com humildade inaudita.

 

O Evangelho segundo São Lucas, hoje solenemente proclamado, não é mera narração de um prodígio ocorrido nas margens da Galileia. É, antes, uma prefiguração luminosa e densa do dom eucarístico que o Senhor confiaria à sua Igreja na véspera de sua Paixão. Nele, discernimos não apenas o milagre, mas o sinal: o pão que se multiplica é figura do Corpo que será oferecido; a multidão saciada é imagem da Igreja saciada no altar; a bênção pronunciada por Cristo é prelúdio da consagração.

 

Vede, caríssimos irmãos, como o Senhor acolhe e instrui com paciência a multidão que o busca — não para oferecer soluções imediatas, mas para conduzi-la ao alimento que permanece. A sua ação não se limita a uma filantropia passageira, nem se reduz a um gesto de compaixão circunstancial. É, em verdade, expressão da divina condescendência, que ao alimentar os corpos, prepara as almas para o dom perene da Eucaristia, em que Ele mesmo Se fará viático e sustento dos peregrinos da fé.

 

Que esta solene liturgia, celebrada junto ao túmulo do Príncipe dos Apóstolos, reavive em nós a fé eucarística herdada da tradição apostólica, ilumine nossa inteligência para que possamos contemplar com mais profundidade o mistério insondável do amor redentor, e inflame os nossos corações para que sejamos, no meio do mundo, testemunhas vivas d’Aquele que, em cada sacrário, permanece oculto sob as espécies do pão, à espera silenciosa da nossa adoração.

Seja para sempre louvado e glorificado o Santíssimo Sacramento do altar. Amém.