Prezados irmãos cardeais,
distintas Autoridades Eclesiásticas, Irmãos e Irmãs no Senhor!
Hoje, ao celebrarmos a memória da Apresentação da
Bem-Aventurada Virgem Maria, a liturgia nos convida a contemplar a singular
beleza do mistério de Maria no desígnio salvífico de Deus. A Virgem Maria,
apresentada no templo, segundo a piíssima tradição, é o ícone de uma vida
totalmente consagrada ao Senhor.
O Evangelho nos ajuda a aprofundar este mistério.
Jesus, ao responder àqueles que lhe falam de sua mãe e seus irmãos, faz uma
afirmação que pode parecer, à primeira vista, desconcertante: “Todo aquele que
faz a vontade de meu Pai que está nos céus, esse é meu irmão, minha irmã e minha
mãe.” Com essas palavras, Nosso Senhor não nega a singularidade do vínculo com
Sua Mãe, mas a eleva a um plano superior. A Virgem Santíssima não é apenas a
mãe biológica de Jesus; ela é, acima de tudo, a primeira discípula, a mulher
que, pela sua perfeita obediência à vontade divina, se torna o modelo da nova
família de Deus. No seu “Fiat”, Maria antecipa a atitude de todo cristão que
deseja viver plenamente o Evangelho.
Hoje, caríssimos irmãos e irmãs, somos chamados a
olhar para Maria como o modelo da humanidade redimida, o ícone da Igreja que
caminha na fé, sustentada pela graça de Deus. Que o Seu exemplo nos inspire a
viver não segundo os projetos efêmeros do mundo, mas segundo o projeto eterno
do Altíssimo.
A memória da Apresentação de Nossa Senhora, portanto,
recorda-nos de que nossa vocação primordial é buscar a santidade, o que
significa, antes de tudo, conformar nossa vontade à de Deus. Assim como Maria
se apresentou no templo para consagrar-se totalmente ao Senhor, somos
convidados a apresentar nossas vidas no altar do amor divino, renunciando ao
egoísmo e abraçando a missão que Ele nos confia.
Peçamos, portanto, à Virgem Santíssima, que interceda
por nós, para que, como Ela, possamos ser configurados ao seu Filho amado,
Cristo Jesus, Senhor da história e centro de nossas vidas. Assim seja.
Nesta hora de elevada responsabilidade, em que nos
reunimos em oração solene pela eleição do Bispo de Roma, a liturgia suscita
importantes reflexões que nos ajudam a vivenciar este momento.
O texto de Isaías, que ouvimos há pouco, evoca a missão
fundamental da Igreja e do Sumo Pontífice: ser um sinal visível do amor de Deus, um
bálsamo para os sofrimentos que perturbam o caminhar da Igreja, e um
proclamador incansável da esperança e da justiça. A missão do Papa é
precisamente ser este ungido que leva a boa nova aos pobres e cura os corações
aflitos.
No evangelho segundo S. João, por sua vez, Jesus
faz o seguinte apelo: "permanecei no meu amor" (Jo 15, 9). A palavra "permanecer"
carrega consigo um convite à constância, à fidelidade, à conexão íntima com
Cristo. Em outras palavras, vivenciar a plenitude do Amor só é possível
mediante uma fé madura, isto é, verdadeiramente radicada na amizade com Cristo.
É esta amizade que nos dá o critério do
discernimento, para que não sejamos “batidos pelas ondas e levados por qualquer vento
de doutrina..." (Ef 4, 14). Eis aqui uma lição
importante, sobretudo para nós cardeais: o futuro pontífice, chamado a guiar a
Igreja, além de ser alguém que cultive uma amizade profunda com Cristo, deve
ser alguém determinado a remar a barca de Pedro contra as correntes
superficiais da moda e das artimanhas do maligno.
Por fim, caríssimos irmãos e irmãs, neste tempo de espera
e oração, invoquemos a intercessão de Nossa Senhora, a Mãe da Igreja, e de
todos os santos. Que a luz do Espírito Santo ilumine os corações dos cardeais a
fim de que escolham um pontífice sábio, compassivo e fiel à missão confiado por
Cristo à Sua Igreja. Assim seja.