Carta "Unitas in Diversitate" - Dicastério para o Clero


 


DOM DIMITRI PICCOLOMINI CARDEAL ABRAMOV
POR MERCÊ DE DEUS E DA SANTA SÉ APOSTÓLICA
PREFEITO DO DICASTÉRIO PARA O CLERO


Carta Unitas in Diversitate

(Unidade na Diversidade)


"Porque assim como em um corpo temos muitos membros, e nem todos os membros têm a mesma função, assim nós, embora muitos, somos um só corpo em Cristo, e individualmente uns dos outros."

(Romanos 12, 4-5)


Em nome da Trindade Santa e com a bênção abundante de Nosso Senhor, dirijo-me respeitosamente aos Reverendíssimos Padres e ao amado Povo de Deus, invocando sobre todos vós a graça e a paz que provêm do Altíssimo. Que a luz divina ilumine vossos caminhos e que o amor de Cristo transborde em vossos corações, guiando-nos juntos na jornada da fé.


É com inefável reverência e temor diante da grandiosidade da missão que nos foi confiada, dirijo-me a vós, virtuosos presbíteros da Igreja de Cristo, como um humilde servo do Senhor, investido com a graça divina que mana generosamente de Nosso Salvador.


Que este momento de comunhão e reflexão seja impregnado pela atmosfera sacra que envolve nossas almas consagradas, como o incenso perfumado a Ele que nos chama para o serviço pastoral. Inspirado pela Trindade Santa, cuja presença se faz patente em nossos corações e ministérios, permiti-me expressar a gratidão que transborda em meu ser, pois reconheço a grandeza da responsabilidade que compartilhamos como dispensadores da Palavra Divina.


Que a humildade do servo e a confiança na misericórdia divina sejam a bússola que guia cada passo, pois somos apenas vasos frágeis moldados pelas mãos do Oleiro Celestial. Comungamos da alegria que emana da unidade espiritual entre nós, formando um só corpo sob a égide de Cristo, o Supremo Pastor. Que a "Unitas in Diversitate" que proclamamos não seja apenas um slogan, mas uma expressão viva do Evangelho, refletindo a multifacetada beleza do Corpo Místico de Cristo.


Neste contexto, minha alma jubila ao vosso lado, pois, ao partilhar estas reflexões, buscamos fortalecer os alicerces da fé, celebrar a diversidade de dons e talentos que o Espírito Santo generosamente derrama sobre sua Igreja. Em nossa busca pela harmonia, permitimo-nos explorar, com zelo e reverência, os tesouros insondáveis contidos nas Escrituras e na tradição apostólica, que constituem o alicerce seguro de nossa fé católica.


Nestes dias permeados pela efervescente diversidade que caracteriza nossa sociedade, reconhecemos que a multiplicidade de dons, um generoso presente de Deus, deve ser acolhida com profundo amor e compreensão. Cientes de que essa diversidade é, em si, uma manifestação da riqueza intrínseca à criação divina, instamos a que a recebamos com corações abertos e discernimento, guiados pela luz da fé católica que orienta nosso caminho.


Em nossa incessante busca pela aceitação mútua, é imprescindível que permaneçamos vigilantes e fiéis aos preceitos que fundamentam nossa fé. Em conformidade com os ensinamentos sagrados, somos chamados a discernir a verdade e a caridade, de modo a harmonizar nossa comunidade eclesial diante das transformações do mundo contemporâneo.


Que, nesse cenário dinâmico e desafiador, saibamos acolher a diversidade como um sinal da infinita sabedoria divina, mantendo-nos firmes na adesão aos princípios inalienáveis de nossa fé católica. Que a caridade, em sua plenitude e autenticidade, seja o alicerce sobre o qual edificamos a compreensão mútua, reforçando os laços fraternos que unem os filhos de Deus.


Ao prosseguirmos nesta jornada, que a Sagrada Escritura seja nossa bússola infalível, guiando-nos pelo caminho da verdade e da reconciliação. Como nos recorda o apóstolo Paulo em Efésios 4, 3, "esforçai-vos diligentemente por preservar a unidade do Espírito no vínculo da paz", mantendo, assim, a coesão necessária para enfrentarmos os desafios contemporâneos.


A Palavra Divina, imutável alicerce que sustenta nossa jornada espiritual, nos evoca, conforme proclamado em Gálatas 3, 28: "Não há judeu nem grego; não há escravo nem livre; não há homem nem mulher; porque todos vós sois um em Cristo Jesus". Este divino apelo à unidade na diversidade ressoa como um chamado à caridade, exortando-nos a acolher e celebrar as singulares diferenças individuais. Que, ao mesmo tempo, mantenhamos a coesão proporcionada pela fé em Nosso Senhor Jesus Cristo, que nos congrega sob a égide do amor divino.


Esta passagem sagrada, rica em significado teológico e pastoral, reafirma a visão católica da igualdade e irmandade em Cristo. Sob a luz desta verdade, somos todos convocados a transcender as barreiras que separam, reconhecendo em cada irmão e irmã, independentemente de sua origem ou posição social, a presença viva do Corpo Místico de Cristo.


O chamado à caridade, enraizado nas Escrituras, não apenas nos incita a respeitar as diferenças, mas nos instiga a amar como Cristo amou. A riqueza dessa diversidade não é mera coincidência, mas um desígnio divino que nos desafia a testemunhar o amor redentor de Cristo em um mundo frequentemente dividido.


Reconhecemos com profunda convicção a indispensável relevância de acolher todos os fiéis que compõem o Corpo Místico de Cristo, sem distinção quanto às suas específicas circunstâncias pessoais. Todavia, é imperativo ressaltar, com inabalável zelo pastoral, o inalienável chamado à santidade que cada alma, em sua singularidade, recebeu como parte do plano divino.


Na nossa incessante busca pela inclusividade, é vital reafirmar o compromisso inalienável de transmitir com fidelidade os sublimes ensinamentos legados por Nosso Senhor Jesus Cristo. Esses preceitos sagrados, emanados do Evangelho, não apenas orientam nossos passos na jornada terrena, mas também nos conduzem com segurança aos portais da salvação eterna.


No venerável capítulo sexto da Primeira Epístola aos Coríntios, o Apóstolo Paulo, sob a orientação do Espírito Santo, profere um solene aviso que ecoa através dos séculos: "Não sabeis que os injustos não hão de possuir o Reino de Deus? Não vos iludais: nem impuros, nem idólatras, nem adúlteros, nem efeminados, nem sodomitas, nem ladrões, nem avarentos, nem ébrios, nem maldizentes, nem rapaces hão de possuir o Reino de Deus" (1 Coríntios 6, 9-10).


É imperativo, com a mais sincera atenção pastoral, que meditemos sobre essas palavras inspiradas. O Apóstolo, movido pela caridade que brota do coração divino, adverte-nos acerca das realidades que podem obstruir a entrada no Reino eterno. São categoricamente delineadas as práticas contrárias à moralidade cristã, e, com isso, somos chamados à reflexão sobre a necessidade premente da conversão.


Que estas admoestações, longe de serem expressões de julgamento, sejam encaradas como faróis de orientação no oceano tumultuado da existência terrena. Guiamos, com humildade e amor fraterno, pela misericórdia divina, cuja luz ilumina os caminhos tortuosos da nossa jornada espiritual. Em nossa tarefa pastoral, motivada pelo desejo sincero de salvação para todos os filhos de Deus, não podemos negligenciar a responsabilidade de incentivar a conversão, inspirando-se na compaixão que brota do coração de Cristo.


Que, ao ponderarmos sobre estas sagradas escrituras, possamos fortalecer o fundamento da verdadeira fé católica, almejando a purificação interior e a conformidade com a vontade divina. Que a luz do Espírito Santo dissipa as sombras do pecado, conduzindo-nos a uma profunda reconciliação com Deus e, assim, preparando-nos para a gloriosa herança reservada àqueles que, mediante Sua graça, perseguem a santidade.


A multiplicidade de dons espirituais presentes na Santa Igreja emerge como um resplandecente testemunho da opulência do Espírito Santo, conforme salientado sabiamente pelo Apóstolo Paulo em sua epístola aos Coríntios (1 Coríntios 12, 4-6). Neste sagrado compêndio, somos instruídos a discernir a diversidade de carismas como expressão da unidade subjacente à ação do Espírito divino. "Há diferentes tipos de carismas, mas o Espírito é o mesmo; há diferentes ministérios, mas o Senhor é o mesmo; há diferentes atividades, mas é o mesmo Deus que realiza tudo em todos."


Essa diversidade, longe de ser meramente uma variedade incidental, revela-se como uma benção inefável, destinada à construção e exaltação da Mística Esposa de Cristo, que é a Igreja. Cada dom, cada ministério, e cada atividade, são tecidos pela mão divina para formar um todo harmonioso, uma sinfonia celestial que ressoa na Terra e ecoa nos confins celestiais.


Neste significativo contexto eclesial, revela-se como imperativo o compromisso com a busca incessante pela unidade e comunhão, almejando transcender as inevitáveis divisões que possam emergir no seio da comunidade dos fiéis. Inspirados pela inestimável sabedoria do apóstolo Pedro, conforme registrado em sua epístola canônica (1 Pedro 3, 8), somos solenemente exortados a atingir um estado de consenso espiritual, caracterizado pela plenitude de um mesmo sentimento, pela compaixão que brota dos corações dos filhos de Deus, pela profusão do amor fraternal que emula a caridade divina, pela prática incessante da misericórdia, e pela humildade que reconhece a soberania do Senhor em todas as coisas.


Este chamado à unidade, fundamentado nas sagradas escrituras, reflete a essência da vida cristã, pois somente ao nos unirmos harmoniosamente em um mesmo propósito, podemos cumprir fielmente o mandamento do Salvador: "Amai-vos uns aos outros, como Eu vos amei" (João 13, 34). Em conformidade com a orientação de Pedro, insta-nos a busca pela concordância espiritual, manifestando-se em um único coro de amor, compaixão e humildade, como discípulos empenhados em seguir os passos do Mestre.


Que o Espírito Santo, cuja essência é a fonte inesgotável de unidade na diversidade, conduza-nos com Sua graça e nos ilumine com a sabedoria celestial, a fim de que, revestidos da verdadeira caridade cristã, possamos erigir-nos como testemunhas genuínas do Evangelho em nosso contemporâneo e necessitado mundo, ansioso por esperança e reconciliação. Que este chamado ecoa em nossos corações e ressoe como uma melodia celestial, inspirando-nos a trilhar o caminho da unidade, em consonância com a vontade divina, para a maior glória de Deus e a salvação de nossas almas.


Que a celestial intercessão de Maria, Santíssima Mãe da Igreja, se derrame copiosamente sobre cada alma sacerdotal, para que, unidos em humildade diante do trono divino, possamos trilhar juntos o caminho luminoso rumo à perfeição da unidade na diversidade, conforme a sublime proposta que Cristo, nosso Salvador, nos apresenta em sua divina sabedoria. Que sob a benevolente proteção de Nossa Senhora, alcancemos a plenitude da harmonia espiritual, revelando ao mundo a beleza da comunhão que brota da fonte eterna de toda verdade e amor.


Dado em Roma, na sede deste Dicastério,

no dia 12 de Dezembro,

do ano do Senhor de 2023,

sob o reinado de Bento IX.



+ Dimitri Piccolomini Card. Abramov

Prefeito